Região

Novas Uvas na Borgonha?

Publicado em 07 de junho de 2021
Atualizado em 01 de abril de 2023
Tempo de Leitura 3 mins. de leitura
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A safra 2020 na Borgonha despertou um alerta nos produtores. As temperaturas médias mais altas durante a estação de crescimento fez com que a colheita começasse ainda na primeira quinzena de agosto. Sendo que, normalmente acontecia em setembro.

Na verdade, nos anos anteriores as temperaturas já estavam mais altas comparadas ao histórico e o tempo mais seco, mas 2020 bateu surpreendeu com a tamanha antecipação. O aquecimento global criou um clima de aflição. Pois, as áreas de vinhedos mais privilegiadas ficam muito quentes e os risco de geada tardia e queimaduras solares são altíssimas.

A elegância, marca clássica dos vinhos borgonheses, pode se ver ameaçada diante do surgimento de vinhos mais maduros ano após ano.

Alternativas encontradas

O que está se buscando na Borgonha é usar diferentes clones de Chardonnay e Pinot Noir. Clones esses que acumulam menos açúcar, mantêm acidez e amadurecem mais tarde para, assim, evitar a perda de equilíbrio nos vinhos. Para se ter uma ideia, existem 47 clones oficiais de Pinot Noir, mas pouquíssimos são usados.

Por isso, é hora de expandir os horizontes e buscar clones em outros lugares ou simplesmente clones que foram deixados de lado por vários motivos.

Uma outra ideia é a tentativa de buscar novos porta-enxertos que permitam um certo atraso no amadurecimento. Por exemplos os de Vitis riparia, de acordo com o depoimento dado a Wine Enthusiast por Laurent Audeguin, agrônomo e enólogo do French Vine and Wine Institute. Testes já estão sendo feitos.

Possíveis novas uvas em Borgonha

Além dessas alternativas, outras medidas mais radicais já estão sendo debatidas entre os produtores da Borgonha e o Bourgogne Wine Board: uvas diferentes das clássicas, para o futuro da Borgonha continuar promissor. O que se busca com isso é encontrar variedades que amadureçam mais tarde, a fim de garantir acidez e um acúmulo menor de açúcar (e consequentemente vinhos menos alcoólicos).

Os produtores estão aproveitando o ensejo do programa nacional criado em 2018 pelo INAO (Instituto Nacional de Origem e Qualidade). Ele autoriza as regiões vinícolas a buscarem castas que vão se adaptar às mudanças climáticas. Bordeaux já aprovou 6 novas variedades neste ano de 2021, conforme já foi bastante divulgado na mídia.

Uma lista restrita de novas variedades será enviada ao INAO em 2022. O diretor do Domaine Louis Latour, Christophe Deola, acredita que essa lista irá incluir uvas como Aubin, Roublot, Sacy, Melon, César e Tressot, que são castas esquecidas da Borgonha. Elas foram abandonadas pela dificuldade que tinham em atingir o amadurecimento ideal. E agora, diante do novo cenário, elas têm grandes chances de retornar e ganhar destaque. Algumas delas já são cultivadas em pequenas parcelas. 

Outras castas além das fronteiras da Borgonha possivelmente serão miradas nessa lista que será criada. Por exemplo, uvas de Jura ou até mesmo as que se adaptam bem ao clima Mediterrâneo. Cabernet Franc e Syrah são algumas mencionadas e também duas tintas que podem ter alguma semelhança com a Pinot Noir: Nebbiolo e Xinomavro. No entanto, há produtores que torcem o nariz para uvas estrangeiras.

Outras regiões francesas seguindo o mesmo caminho…

Em Côtes de Provence, segundo Audeguin, serão feitos testes com as gregas Moschofilero e Agiorgitiko, enquanto no Languedoc escuta-se falar sobre Montepulciano. Que muitas mudanças em relação às uvas permitidas vão acontecer, isso é fato e já está ocorrendo. O debate será longo e nem todos ficarão satisfeitos, porque isso significa mexer na história e na cultura da região.

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